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23/02/2019 às 17h58min - Atualizada em 23/02/2019 às 17h58min

Homens e mulheres se unem contra assédio no carnaval em BH

Depois do 'Não é Não!', organizado por mulheres, eles lançam o 'Não forço a barra!'

No primeiro carnaval em que entra em vigor a nova lei de importunação sexual, grupos de homens e de mulheres se unem contra o assédio. Na folia de Belo Horizonte, a já conhecida campanha “Não é Não!” tem agora o reforço da “Não forço a barra!”, encabeça por homens. A ideia é conscientizar os foliões sobre o assédio e também pensar formas de intervir em situações como puxar pelo braço ou pelo cabelo, tocar ou beijar à força, entre outros.
Um grupo de homens de BH fez debates nos últimos dias para falar sobre comportamentos masculinos nocivos e muitas vezes criminosos, comuns durante o carnaval. Com o lema “Não forço a barra”, eles agora somam forças com a já conhecida campanha “Não é Não”, encabeçada por mulheres em todo o Brasil. A ideia é conscientizar os homens sobre abordagens que são consideradas assédio. Para isso, eles revisam valores tipicamente masculinos. Um dos organizadores do grupo “Machismo Entre Nós”, Gabriel Mattos cita alguns deles.
“Eu lembro que um amigo tinha ficado com nove mulheres. Mas eu imagino que muitas dessas sofreram assédio, por ele estar nessa lógica de competição. Esse lugar do macho que tem que ficar com várias mulheres. Os homens são socializados nessa cultura machista, nessa masculinidade tóxica, que prevalece a competição, a violência. Isso acaba prejudicando a própria saúde dele. Homens são os que mais consomem álcool e outras drogas e isso gera outras repercussões individuais e sociais, principalmente para as outras pessoas: mulheres e LGBTs”, disse Gabriel.
Na última semana, o debate do grupo “Machismo Entre Nós” teve a participação de mulheres. A percussionista Renata Oliveira contou que, anos atrás, viveu situações que não queria por causa da pressão de outras pessoas no meio das multidões do carnaval de Salvador.
 

“Tinha as músicas de sucesso na época que era o ‘Beija, beija, tá calor, tá calor, eu não quero só beijar, mas também fazer amor’. Então, era uma época que as mulheres eram muito assediadas mesmo porque existia uma regra ‘beija, beija’. Os homens pulavam, faziam círculos ao redor das mulheres, pegavam, grudavam, beijavam. Não dava para identificar ninguém, você só se assustava com as pessoas grudando, depois vinha outro, e você ficava aérea”, lembra Renata.

 
Conforme dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos os casos relacionados a denúncias de violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres aumentam até 20% no mês de carnaval em relação ao resto do ano.
O pesquisador Alisson Menezes, de 29 anos, que participa dos blocos de rua de BH desde 2014, deu um exemplo de como todo mundo pode ajudar a evitar esse tipo de crime na folia.
“Eu estava em um bloco. No meio da multidão, a gente ouviu um povo gritando ‘beija! beija! beija!’, que é para a menina beijar o cara que provavelmente ela não queria beijar. No meio da multidão o povo começou ‘beija se quiser!’. E foi pau a pau. Na mesma altura. Se ela beijou ou não, não sei. Mas causou um impacto. Deu para ela a chance de sair dali. Então é uma alternativa para quando você vir esse tipo de coisa, porque é um assédio também”, acredita Alisson.
O designer Flávio Ferreira, contou que, infelizmente, já precisou ajudar uma amiga que foi assediada durante a folia em BH.
“Teve um cara que estava insistindo e segurando ela para tentar alguma coisa e ela claramente falando que não queria. Infelizmente o cara só respeita outro cara. O que é uma parada péssima dentro da nossa cultura. Eu falei "ela não quer nada". É até uma questão de posse. Por que ele só respeitou quando ele achou que eu estava ficando com ela e só quando eu falei? ”, disse Flávio.
Este é o primeiro carnaval com a nova lei de importunação sexual em vigor. A legislação determina que qualquer ação de cunho sexual não consentida pode ser considerada crime. A pena é de até cinco anos de prisão. Integrante da campanha ‘Não é Não!’, Lívia Mares explica, de forma simples, a diferença entre paquera e assédio.
 

“Uma frase que resume isso muito bem é a seguinte: ‘depois do não é tudo assédio’. A gente tem que respeitar o espaço e as liberdades e o corpo do outro. As coisas só estão dentro da normalidade quando há consentimento, quando há consciência do que está sendo feito. Saiu disso, com certeza a gente está falando de assédio e assédios que podem ser criminalizados.”, explica.

 

A orientação da campanha ‘Não é Não!’, para vítimas e testemunhas de crimes de violência sexual no Carnaval, é observar as características do agressor, se possível filmar ou fotografar a situação e fazer o registro na polícia.
 
Serviço
 
Central de Atendimento à Mulher: ligue 180

Fonte: G1 Globo
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