O Ministério Público sugeriu na segunda-feira (5) que a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) faça adequações em seu estatuto para se adequar às leis vigentes e evitar a extinção da entidade. Uma investigação apura a suspeita de desvios dentro da instituição para compra de fazendas milionárias e casa na praia.
A Afipe foi fundada em 2004 pelo padre Robson de Oliveira e é responsável pela administração do Santuário Basílica de Trindade, na Região Metropolitana. O objetivo é ajudar nos trabalhos de evangelização da igreja. Segundo o MP, a entidade movimentou mais de R$ 2 bilhões em nove anos, mas há a suspeita de que R$ 120 milhões foram desviados. O padre Robson sempre negou irregularidades e se afastou do cargo para colaborar com as investigações.
Parte do dinheiro deveria ser usado na construção da nova Basílica, que foi avaliada inicialmente em R$ 100 milhões, mas que, atualmente, tem previsão de custar R$ 1,4 bilhão.
A Afipe informou que a reunião foi um pedido da própria entidade para que a nova diretoria pudesse apresentar as primeiras ações tomadas. “Estamos aqui para entender o que houve e contribuir. Também estamos fazendo a nossa parte. Contratamos uma auditoria externa independente que começou a trabalhar nesta segunda, 5, que vai avaliar todas as informações da entidade. O que tivermos certeza e for comprovado, vamos informar a todos, Ministério Público, Justiça, imprensa, sociedade, nossos devotos e tomar as providências necessárias para cada fato”, disse padre André, novo presidente da Afipe, em uma nota.
Na reunião, o Ministério Público pediu providências emergenciais na associação para que a gestão se adeque ao que estabelecem as normas. A promotora Fabiana Lemes Zamalloa do Prado disse que há inúmeras ilegalidades já apuradas e, caso não sejam tomadas as medidas necessárias, a entidade pode ser extinta.
O Ministério Público informou ainda que vai encaminhar um ofício ainda esta semana, dando um prazo de dez dias, para que a Afipe aponte as adequações que foram feitas. O objetivo é preservar as atividades sociais feitas pela entidade, garantindo também transparência e fiscalização.
Desde que assumiu a Afipe, no dia 9 de setembro, o padre André Ricardo adotou algumas medidas para colaborar com as investigações e tentar conter supostos desvios de dinheiro. Entre as ações estão a troca dos membros da diretoria que são investigados pelo MP e rescisão de contrato com uma assessoria contábil, apontada como integrante do esquema.
Além disso, foi contratada uma auditoria externa para analisar as contas e movimentações financeiras da Afipe desde sua fundação.
O MP informou 70% dos documentos já foram analisados e cerca de 90% das testemunhas já foram ouvidas e algumas delas, apontadas como laranjas no esquema criminoso, alegaram não saber que os nomes eram usados de forma irregular. Padre Robson ainda não foi ouvido pelos promotores.
O MP fez a Operação Vendilhões no dia 21 de agosto. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão na Afipe e endereços ligados ao padre Robson de Oliveira. Entre os itens recolhidos estão documentos, equipamentos eletrônicos, moedas internacionais e até uma caneta espiã.
Segundo os promotores, entre os bens comprados com o dinheiro desviado estão um avião, uma casa na praia em Guarajuba (BA) no valor de R$ 2 milhões e mais de 50 fazendas, uma delas avaliada em mais de R$ 90 milhões.
Entre as movimentações listadas também estão a compra e venda de rádios e transferências financeiras a empresas de comunicação e imobiliárias. Algumas das empresas funcionam no mesmo endereço, em um prédio de luxo de Goiânia. Os promotores acreditam que postos de combustíveis eram usados para a lavagem de dinheiro.
O Ministério Público investiga os crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, sonegação fiscal e associação criminosa.
Em um vídeo gravado um dia após a operação do MP, o padre disse que todas as doações foram “empregadas na própria associação Afipe em favor da evangelização”.
Os advogados de defesa do religioso apontam ainda que todos os negócios feitos tiveram o objetivo de aumentar os lucros da associação.
Ele pediu afastamento da Afipe e a Arquidiocese suspendeu os direitos do padre para realizar celebrações.
Fonte: G1Goiás