Areia, pedras, animais. O óleo que vem atingindo o litoral nordestino não só deixa fragmentos depois de retirado, como parece “agarrar” em alguns locais. O
trabalho de limpeza das pedras de Itapuama, no
Cabo de Santo Agostinho, ganhou a ajuda de um "biogel", desenvolvido por uma equipe do estado, que facilitou a retirada da substância.
“Ele é um produto totalmente biodegradável. Uma ONG fez um teste ontem [quinta, 24] com o nosso produto em animais e se surpreendeu com o resultado. A gente pode usar nas rochas, nos animais e nas próprias pessoas que estão manuseando esse óleo”, afirmou a professora e doutora em Química, Leonie Asfora Sarubbo.
A pesquisa foi iniciada há 20 anos por um grupo do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco. Há três anos, os pesquisadores conseguiram produzir um biodetergente, que está sendo usado em usinas termelétricas.
Quando o óleo começou a surgir no Nordeste, o grupo começou a analisar como adaptar a solução para esse caso. Dez cidades pernambucanas foram atingidas pela substância, desde o dia 17 de outubro. Até a quinta (24),
foram 1.358 toneladas de resíduo retiradas do estado, segundo balanço divulgado pelo governo.
“Esse óleo [que chegou à costa] é uma mistura complexa de hidrocarbonetos, que são compostos de carbono, e tem uma densidade muito elevada, é bem viscoso. Então, é muito fácil grudar na pele e os produtos de limpeza normais, como detergente, não conseguem limpar”, explicou o engenheiro químico Hugo Moraes.
O "biogel" é uma espécie de detergente natural, que atua “quebrando” a cadeia de hidrocarbonetos em pedaços menores, segundo os pesquisadores. Com isso, o óleo fica mais fluído.
“A partir do momento em que ele fica mais fluído, se ele entrar em contato com a água, com o solo, a própria natureza e micro-organismos podem fazer essa degradação. Nós estamos ajudando eles a degradar esse óleo, sem usar produtos nocivos”, detalhou a engenheira ambiental Nathália Padilha.
A pesquisadora garantiu que o produto final após a utilização do biogel não causa danos para a natureza.
“Esse é um produto desenvolvido ao longo de mais de 20 anos. A gente teve que adaptar por conta das características desse óleo que chegou aqui na praia. É um produto que tem base natural, não vai impactar de maneira alguma. A gente está com compromisso de ajudar, não de poluir ainda mais”, disse Padilha.
Após o teste dessa sexta-feira (25), os pesquisadores afirmaram que o produto está pronto para ser usado em todo o Nordeste.
Óleo em Pernambuco
Além do Cabo de Santo Agostinho, que recebeu o teste de limpeza de pedras, o óleo atingiu praias de
São José da Coroa Grande,
Barreiros,
Tamandaré,
Sirinhaém,
Rio Formoso,
Ipojuca,
Jaboatão dos Guararapes,
Paulista e
Itamaracá.
As
praias de Candeias e de Piedade, em Jaboatão, e a do Sossego, em Itamaracá, foram atingidas pela substância nesta sexta-feira (25), pela primeira vez desde que a substância voltou a aparecer no estado.
Do domingo (20) até a quarta (23), o Cabo registrou uma média de 35 pessoas atendidas diariamente em uma estrutura montada no litoral, com sintomas como dificuldade respiratória, dermatite de contato, ardência nos olhos e na garganta, segundo a superintendente de Saúde do município, Juliana Vieira.
De acordo com o coordenador de Emergência em Saúde Pública da Secretaria Estadual de Saúde, George Dimech, os casos do Cabo já foram informados e devem ser formalmente notificados.
Em São José da Coroa Grande e em Ipojuca, outras 19 pessoas socorridas com sintomas de intoxicação devem ser acompanhadas pela Secretaria Estadual de Saúde, segundo boletim divulgado na quina (24).
Outras pesquisas 00:00/05:27
O petróleo cru, substância que foi encontrada nas praias do Nordeste, é o
óleo bruto, produzido diretamente no reservatório geológico e posteriormente escoado para uma refinaria. Ele precisa ser processado para dar origem a subprodutos comerciais como gasolina, querosene, óleo diesel e lubrificantes.
Depois da
coleta da água das praias atingidas pelo óleo no litoral pernambucano, a Agência Estadual do Meio Ambiente deve divulgar resultados em novembro. Os resultados do benzeno e dos hidrocarbonetos serão entregues em duas semanas, segundo o diretor de Controle de Fontes Poluidoras da Agência Pernambucana de Meio Ambiente, Eduardo Elvino.
Em Tamandaré e em Ipojuca, mergulhadores buscaram fazer
um pente-fino para retirar resquícios de óleo do fundo do mar e também avaliam o impacto do desastre para os recifes de corais nas áreas de proteção ambiental. Os estudiosos buscam entender
como o óleo vai afetar as espécies a curto e longo prazos.
Fonte: G1