23/10/2019 às 15h26min - Atualizada em 23/10/2019 às 15h26min
'Achei que levava segredo para túmulo', diz Paulo Coelho sobre livro que sugere que Raul Seixas o entregou para ditadura
Novo livro sugere que captura do autor pelo Dops está relacionada a cantor. 'Não confirmei e não confirmo nada. Eu apenas vi o documento e me senti abandonado na época', completou Coelho.
O escritor Paulo Coelho comentou sobre a possibilidade de Raul Seixas tê-lo entregado para a ditadura militar: "Fiquei quieto por 45 anos. Achei que levava segredo para o túmulo."
O comentário do autor no Twitter nesta quarta-feira (23) se refere ao livro "Não diga que a canção está perdida", do jornalista Jotabê Medeiros sobre Raul.
No livro, Medeiros conta que Raul foi chamado para depor no Dops (Departamento de Ordem Policial e Social) algumas semanas antes de Coelho ser detido.
Após a repercussão de seu tuíte, Coelho voltou a escrever: "Não confirmei e não confirmo nada. Eu apenas vi o documento e me senti abandonado na época."
Documento sobre caso
O autor teve acesso a um documento da época no Arquivo Público do Rio de Janeiro. O documento cita que o órgão chegou a Paulo "por intermédio do referido cantor", em reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" que antecipa detalhes do livro. Ele está em pré-venda e será lançado na próxima sexta (1º).
Em
entrevista à BBC Brasil em setembro deste ano, Paulo Coelho relembrou o episódio de tortura sofrido em 1974. "Os militares não entendiam as minhas músicas. Eles diziam 'Quem são esses caras aí? Raul Seixas e Paulo Coelho. Alguma coisa está errada porque a gente não entende o que eles estão falando'."
"Então, chamaram o Raul para depor. O Raul era o cantor. Como diz o Elton John, 'Don't Shoot Me, I'm Only the Piano Player' (Não atire em mim, eu sou apenas o pianista). Mas a eminência parda, o cara perigoso, o ideólogo era o letrista. Então eles me prenderam. Agora, tem que justificar uma prisão. Não acharam nada", disse.
"Quando eu estava preso oficialmente, fichado, com impressão digital, meus pais conseguiram mandar um advogado. Aí, me soltaram no mesmo dia e me sequestraram em frente ao aterro do Flamengo. Me arrancaram do táxi, me jogaram na grama, me botaram a arma. Eu estava entregue. Aí eu fui torturado, apanhei, essas coisas todas."
Fonte: G1