O dia começa com um café da manhã digno de hotel: frutas frescas, pães variados, ovos beneditinos e sucos coloridos e funcionais. No almoço, uma combinação de sabores diferentes, em pratos nutritivos. Já à noite, um jantar aromático, com apresentação impecável e digno de um restaurante estrelado.
Essa rotina, que antes parecia ser exclusiva de celebridades, está cada vez mais acessível para o público, graças ao trabalho dos personal chefs, que criam experiências gastronômicas personalizadas para clientes que buscam exclusividade – e faturam alto com isso.
Neste serviço, o profissional adapta cardápios de acordo com as necessidades, preferências, restrições alimentares e estilo de vida de cada pessoa ou família.
Todo preparo das refeições é planejado e feito sob demanda — e, na maioria das vezes, os alimentos podem ser armazenados para consumo posterior.
Segundo especialistas consultados pelo g1, é o próprio personal chef que cuida de todo o processo: desde a compra dos insumos até a organização da cozinha após o trabalho. Além disso, o profissional também pode elaborar cardápios que atendam as preferências e restrições alimentares de cada cliente.
Segundo Zenir Dalla Costa, coordenadora do curso Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário Senac, essa flexibilidade e o modelo de serviço característicos do personal chef são diferentes de outros profissionais da área, como:
“O Personal Chef se destaca pela sua abordagem íntima, customizada e focada na rotina alimentar individual ou familiar, oferecendo uma experiência culinária altamente adaptada e sem o cenário formal de um restaurante”, explica a especialista do Senac.
A professora Paula Sauer, especialista em comportamento do consumidor da ESPM, ressalta que não é obrigatório ter formação acadêmica em Gastronomia ou Nutrição para atuar como personal chef – mas dominar a cozinha com excelência é indispensável.
Além disso, a apresentação dos pratos e do próprio profissional deve ser impecável, transmitindo cuidado e sofisticação. Segundo a especialista, é necessário que tanto o ambiente de preparo quanto as embalagens usadas e a entrega do prato, reflitam higiene, organização e profissionalismo (veja dicas abaixo).
A profissão, que está cada vez mais conhecida na internet, também tem atraído novos profissionais para o ramo. A personal chef Bianca Folla, por exemplo, decidiu abandonar a carreira como advogada para investir na gastronomia.
Ela conta que a decisão veio em 2005, após uma crise de síndrome do pânico, que a fez largar o emprego em um grande banco e transformar a paixão por cozinhar em profissão.
Folla começou oferecendo serviços personalizados de alimentação para familiares e amigos, focados em eventos intimistas. “Meu primeiro cliente foi meu irmão, fiz um jantar a dois para ele e a esposa”, lembra.
Autodidata no início, ela se profissionalizou em 2011, após cursar Gastronomia no Senac, e se tornou uma das primeiras a adotar o termo “personal chef” no país. Antes, todo o repertório dela foi construído por meio de revistas, livros, cursos pontuais e viagens.
“O personal chef é um empresário da própria carreira. Sou eu que me divulgo nas redes sociais, sou eu que falo com meu cliente. Dentro desse guarda-chuva, a gente pode ter várias possibilidades, como buffet, comidinhas congeladas, eventos. É empreender com aquilo que a gente ama, que é cozinhar”, afirma a empreendedora.
Com uma equipe direta de quatro pessoas e apoio de outras quatro, Bianca diz que mantém uma rede de fornecedores fiéis — como açougue, peixaria e hortifrúti —, e atua há 20 anos na cozinha da própria casa, em São Paulo, onde oferece três principais serviços:
No buffet, o valor parte de R$ 3.500 pela contratação da equipe, mais o custo por pessoa. As marmitas individuais variam entre R$ 40 e R$ 60, enquanto porções familiares podem chegar a R$ 130. O faturamento mensal da empresa gira em torno de R$ 40 mil a R$ 50 mil.
Além disso, a chef ministra o curso "Minha Cozinha, Meu Negócio", com metodologia própria, e oferece mentoria para profissionais que desejam se posicionar no mercado.
Folla conta que chegou a trabalhar com eventos de Natal e Ano-Novo durante 18 anos, cobrando o dobro pelas datas. Hoje, no entanto, prioriza o descanso e a qualidade de vida nessas ocasiões. Mesmo assim, diz ela, as vendas de pratos congelados de fim de ano é uma das suas maiores fontes de faturamento.
“Hoje eu decidi não atender mais nessas datas, mas continuo vendendo as comidas congeladas para ceias de Natal e Ano Novo, que são um sucesso. No primeiro ano, em 2020, faturei R$ 30 mil só com pratos natalinos. Os clientes se apaixonaram e continuam pedindo todo fim de ano”, lembra Bianca Folla.
Faltam profissionais no Nordeste
Outro exemplo de personal chef é Lívia Moura, natural de Recife, em Pernambuco. Aos 26 anos, ela é formada em gastronomia e técnica em nutrição e trabalha diretamente na casa dos clientes, adaptando os cardápios às restrições alimentares e preferências individuais.
Lívia, que começou vendendo brigadeiros no farol, atualmente conta com o apoio de duas assistentes e oferece três formatos de serviço: semanal, quinzenal e mensal. Fica a critério do cliente decidir se quer apenas almoço, ou também jantar e lanches.
Os preços começam em R$ 350 por semana, sem incluir o custo das compras, que podem ser feitas pelo cliente ou pela própria chef, mediante taxa adicional. Lívia leva para casa do freguês os próprios utensílios domésticos, além de potes de plásticos livres de componentes químicos.
Nos fins de semana, ela também atua em eventos pequenos, como jantares de noivado e celebrações familiares com até 15 pessoas, e presta consultorias para treinar funcionárias domésticas em cardápios específicos, cobrando cerca de R$ 2 mil por atendimento.
O faturamento médio mensal chega a R$ 25 mil. “Ser personal chef é ser livre. A gente faz o próprio horário, trabalha com amor e conhece pessoas novas todos os dias”, resume Lívia, que atende clientes em Recife, João Pessoa, interior do Pernambuco e até São Paulo.
Apesar da crescente demanda por alimentação personalizada, Lívia destaca que ainda há poucos profissionais do ramo atuando no Nordeste. Segundo ela, trata-se de um mercado em crescimento, porém pouco explorado, com escassez de profissionais qualificados — principalmente fora das capitais.
“Em Recife, já existe procura, mas ainda somos poucos. No interior, praticamente não há profissionais especializados. Muita gente quer o serviço, mas não encontra quem oferece com qualidade e regularidade. Tem gente com talento em casa que nem sabe que já tem uma profissão nas mãos”, explica.
Tendências como alimentação saudável, jantares intimistas e experiências personalizadas estão em alta. Atualizar-se e diversificar os serviços pode garantir estabilidade financeira e crescimento contínuo.
“É bacana ter uma história por trás de um serviço. Queira ser reconhecido pelo melhor brigadeiro do mundo, ou pela melhor massa do mundo. Generalizar pode não ser o melhor caminho para ser reconhecido como o melhor”, completa Paula Sauer.Entre as tendências atuais e futuras para personal chefs, estão:
- Alimentação saudável e funcional: foco em ingredientes que promovem bem-estar e performance.
- Culinária sustentável: valorização de produtos locais, aproveitamento integral dos alimentos e redução de desperdício.
- Experiências exclusivas: jantares intimistas e menus degustação personalizados no conforto do lar.
- Personalização de cardápios: atenção a restrições médicas, objetivos nutricionais e performance esportiva.
- Consultoria online em expansão: planejamento de cardápios, aulas e orientações culinárias oferecidas virtualmente.
“Muitos clientes buscam personal chefs não apenas pelo sabor, mas para adequar sua alimentação a objetivos como emagrecimento, ganho de massa muscular ou bem-estar”, completa a professora da ESPM.
Para Zenir Dalla Costa, coordenadora do curso de Gastronomia do Senac, unir excelência culinária, conhecimento nutricional e visão de negócios é a chave do sucesso nesta carreira tão dinâmica e personalizada.
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